entenda o que é mito, o que é ciência e o que funciona na prática
O sono do bebê é uma das dúvidas mais frequentes no consultório e, muitas vezes, uma das maiores fontes de angústia para os pais.
Neste artigo, quero compartilhar de forma leve e embasada o que realmente funciona quando o assunto é sono infantil — explicando o que é mito, o que é ciência e o que deve ser olhado com mais acolhimento.
O sono do bebê é um processo, não uma fórmula
Muitos pais chegam até mim buscando uma tabela perfeita do sono do bebê, esperando encontrar um padrão que traga previsibilidade às noites.
Mas o sono não é uma fórmula. Ele é um processo de amadurecimento neurológico e emocional, e cada criança tem seu próprio ritmo.
Nos primeiros meses de vida, é absolutamente normal que o bebê acorde várias vezes. O corpo e o cérebro ainda estão se adaptando à vida fora do útero. Por isso, antes de pensar em “ensinar a dormir”, é fundamental entender e acolher o ritmo do seu filho.
O sono do bebê é mais sobre confiança e previsibilidade do que sobre controle.
O que as tabelas de sono realmente mostram
As tabelas de sono que circulam na internet são médias populacionais e não regras fixas.
Elas servem como referência para observar tendências, mas não devem gerar culpa se o seu bebê dorme um pouco mais ou um pouco menos.
Veja abaixo uma média que costumo usar como base em atendimentos:
0 a 3 meses: 14 a 17 horas de sono por dia (4 a 6 cochilos)
4 a 6 meses: 12 a 16 horas (3 a 4 cochilos)
7 a 12 meses: 12 a 15 horas (2 a 3 cochilos)
1 a 2 anos: 11 a 14 horas (1 a 2 cochilos)
3 a 5 anos: 10 a 13 horas (geralmente 1 cochilo)
Mais importante do que seguir uma tabela é observar o comportamento do seu bebê:
Ele acorda bem-humorado?
Está ativo e curioso?
Cresce e se alimenta bem?
Esses sinais valem mais do que qualquer número.
As janelas de sono: uma ferramenta de observação, não de controle
Outro conceito importante são as janelas de sono — o tempo que o bebê consegue ficar acordado entre um cochilo e outro. Usá-las como referência ajuda a entender os momentos ideais de descanso, evitando o excesso de estímulo e o choro por exaustão.
Médias aproximadas das janelas de sono:
0 a 3 meses: 45 a 90 minutos
4 a 6 meses: 1h30 a 2h30
7 a 9 meses: 2 a 3 horas
10 a 12 meses: 3 a 4 horas
1 a 2 anos: 4 a 6 horas
Eu costumo orientar os pais a observar o bebê com presença e escuta ativa.
Sinais como olhar distante, bocejos e irritação leve indicam que é hora de desacelerar.
O segredo está em responder antes da exaustão, e não depois do choro.
Mitos que atrapalham o sono do bebê:
Com o tempo, percebi que muitas famílias sofrem mais por causa de mitos e conselhos equivocados do que pelos próprios desafios do sono.
Vamos esclarecer alguns deles:
“Se o bebê dormir menos de dia, dorme melhor à noite.” Mito. O sono diurno é fundamental para a organização do sono noturno.
“É preciso deixar o bebê chorar para aprender a dormir.” Mito. O choro prolongado eleva o cortisol e compromete o vínculo emocional.
“Existe um método que funciona para todos.” Mito. Cada bebê é único e o que serve para um pode ser estressante para outro.
“O leite artificial ajuda o bebê a dormir mais.” Mito. O sono é regulado pela maturação neurológica, e não pela quantidade de leite.
O que realmente ajuda o bebê a dormir melhor
:
A pediatria humanizada nos ensina que o sono não é algo que se impõe, é algo que se constrói com vínculo e previsibilidade.
Veja algumas práticas que costumo sugerir aos pais no consultório:
Crie uma rotina leve e repetitiva, que traga segurança.
Estabeleça rituais de sono: banho morno, massagem, música calma. Evite telas pelo menos uma hora antes de dormir. Cuide do ambiente: luz suave, temperatura agradável e silêncio ajudam o cérebro a relaxar. Respeite o tempo da criança. Comparar o sono do seu bebê com o de outros só aumenta a ansiedade.
O sono é um aprendizado compartilhado. Quando os pais relaxam, o bebê sente.
Quando é hora de buscar ajuda profissional:
Em alguns casos, vale procurar uma avaliação pediátrica:
Se o bebê apresenta despertares muito frequentes, irritabilidade constante ou baixo ganho de peso, é importante investigar as causas.
Nem sempre o problema é o sono em si, às vezes há algo emocional, alimentar ou fisiológico por trás. O papel do pediatra é ajudar a família a compreender os sinais do bebê e oferecer estratégias personalizadas.
O sono como reflexo do vínculo e da confiança:
Mais do que seguir uma tabela, o sono reflete a relação entre segurança, vínculo e previsibilidade.
Quando o bebê se sente seguro, ele relaxa. E quando os pais entendem esse processo, o descanso flui naturalmente.
O meu convite é para que você, mãe ou pai, olhe para o sono com mais leveza sem buscar fórmulas, mas com o coração aberto para aprender com o ritmo do seu bebê.
Para as famílias de Araraquara e região:
Se você está vivendo uma fase desafiadora com o sono do seu bebê, saiba que isso é comum e tem solução.
No consultório, preso por acompanhamentos personalizados, sempre com base científica e empatia.